De menino que sonhava com a proteção florestal a fundador do maior banco de células da América do Sul

De menino que sonhava com a proteção florestal a fundador do maior banco de células da América do Sul

Conheça a história do professor Radovan Borojevic, fundador do Banco de Células do Rio de Janeiro, a maior coleção de células humanas e animais da América do Sul.

Quem vê o olhar sereno e a fala suave do professor Radovan Borojevic nem imagina toda a história acadêmica que ele carrega e tudo o que representa para a biologia.

Humilde e bastante prestativo quanto aos seus conhecimentos, nem ele mesmo se envaidece da sua trajetória. Ele conta a sua vida com a tranquilidade de alguém que apenas fez o que deveria ser feito, mas para nós ficou claro que a sua história vai muito além de um simples acaso de quem desde menino sonhava com a proteção das florestas e o meio ambiente.

Foram cerca de 2 horas de encontro. O doutor Radovan e o mestre Antonio Monteiro, Presidente e Vice-presidente da Associação Técnico Científica Paul Ehrlich (APBCAM), receberam o Presidente do Conselho Regional de Biologia do Rio de Janeiro (CRBio-02), Gustavo Pessôa, seu Assessor, Vinícius Norões e demais membros da equipe do conselho para uma visita técnica onde apresentaram em detalhes toda a história do professor Radovan Borojevic e a sua notável iniciativa na fundação do Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ).



História

Nascido em 1940 em Zagreb, na antiga Iugoslávia, a biologia sempre foi o seu desejo desde criança, porém, sua ideia inicial era trabalhar com a natureza, com a proteção ambiental.

“Meus pais não acharam nada bom, acharam que seria viver no meio do mato e me convenceram a fazer biologia geral”, conta sorrindo.

Acolhendo a orientação dos pais, o jovem Radovan iniciou seus estudos na Faculdade de Ciências da Universidade de Zagreb onde começou a atuar ativamente em estudos de biologia marinha. Porém, durante os estudos, fatores político-sociais o fizeram imigrar para França, onde em 1963 finalmente graduou-se em biologia na Universidade de Estrasburgo e começou a atuar como pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas da França (CNRS).

Em 1968, apenas 5 anos depois, na Universidade de Paris VI, Borojevic conquistou seu título de doutor com a tese “La differenciation cellulaire dans L'embryogenese et Morphogenese Chezles Eponges”, sob a orientação do professor Claude Lévi, seu grande Mestre.



Biologia Marinha

Naturalizado cidadão francês, Borojevic foi convocado ao serviço militar, onde existia na época a opção de ingressar em programas de cooperações técnicas e científicas com países conveniados, o que o trouxe para o Brasil, através do programa franco brasileiro de biologia marinha.

“Fui alocado em Recife e comecei a trabalhar na Universidade de Recife. Depois teve um convênio de porto cooperação franco-brasileiro de pesquisa de fundos marinhos lá no Nordeste, e em Recife ninguém queria ir ao mar, e eu fiquei felicíssimo.”, contou.

Assim o professor Radovan embarcou no navio de pesquisas oceanográficas Almirante Saldanha, onde trabalhou avaliando recursos marinhos.

Quando terminou o serviço militar, devido aos excelentes trabalhos prestados, foi convidado, pelo Almirante Paulo Moreira, que era chefe de programas científicos, a ingressar no programa de implementação da universidade do mar para montar um laboratório de biologia marinha, onde ficou lotado no Instituto de Pesquisas da Marinha do Rio de Janeiro (IPqM).

Depois de um tempo no IPqM, Borojevic foi mais uma vez transferido, dessa vez para a área de saúde.

“A Marinha nessa época tinha um convênio com um instituto da área da saúde dos Estados Unidos, da Marinha americana, que estavam querendo proteção para os soldados que seriam enviados para áreas tropicais e podiam pegar as doenças tropicais. Então estavam interessados em vacinas contra as doenças tropicais.”, contou. O programa envolvia, a Marinha, o Instituto Pasteur, várias Universidades brasileiras e outros institutos internacionais.

“Eu cheguei lá sem entender direito sobre países tropicais e vacinas, minha especialidade era biologia marinha”, lembrou.



Biotecnologia e o Banco de Células

Passadas mais algumas etapas da sua carreira profissional, em 1980, doutor Radovan aceitou o convite para integrar o Departamento de Bioquímica da UFRJ como professor visitante.

Borojevic entrou no Instituto de Química para montar os projetos de patologia celular e biologia celular, foi quando ingressou na área de células humanas. “Foi aí então que eu comecei a trabalhar em bioquímica de células e aplicação em tratamento de câncer e projetos para a solução do câncer”, contou.

Na época a UFRJ era uma das poucas universidades onde se cultivavam células, por isso, com intuito de se desenvolver ainda mais, o professor foi realizar um estágio em um laboratório nos Estados Unidos onde aprendeu a manipular células. Foi nesse momento que Radovan estabeleceu também contato com o Instituto Pasteur e começou a receber as células desse e de outras instituições.

“Essa foi então a ideia de criar o banco de células, que no Instituto Pasteur já tinha obviamente; montar um banco de células onde as células são garantidas, quer dizer, quando eu trabalho, faço um trabalho e dou resultado, esse resultado é sobre a célula que eu conheço. Se eu quero repetir, eu vou pegar de novo essa célula descongelar e reutilizar. E se eu quero comparar os meus resultados com os resultados do Instituto Pasteur, nós temos que trabalhar com a mesma célula, se não vira bagunça. E essa foi a ideia do Banco de Células”, lembra Borojevic.



Foi aí que o professor começou a montar a seu acervo e, para colocá-lo a disposição de todos no Brasil, criou Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ).

“A partir de 1998 o Banco de Células se transferiu para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), criando também o Laboratório de Transplante de Medula Óssea e o serviço de Hematologia, todos fazendo parte do Programa Avançado de Biologia Celular Aplicado à Medicina (APABCAM) através de um financiamento da Petrobrás. A sua obra mais uma vez foi reconhecida pela sociedade e em 2003 recebeu o Prêmio de Personalidade que Faz a Diferença do O Globo na área de ciências, liderando diversas pesquisas voltadas para a terapia celular e a bioengenharia e algumas delas pioneiras no mundo. Em 2010, o Banco de Células do Rio de Janeiro recebeu o convite para se transferir para o Parque Tecnológico de Xerém do INMETRO, onde passou a atuar em colaboração estreita com essa instituição.”, conforme descreve o histórico do site da própria instituição, que afirma que hoje o Banco de Células do Rio de Janeiro é a única coleção de células humanas e animais que atua como prestadora de serviços no Brasil, sendo a maior da América do Sul.



O biólogo Antonio Monteiro, Vice-presidente da Associação Técnico Científica, Curador do BCRJ e Diretor do Biobanco, atualmente o braço direito do Dr. Radovan Borojevic, questiona: “O que aconteceria com a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação do Brasil sem ter uma fonte desse recurso da pesquisa? Então não é só célula, na verdade as coleções são consideradas pilares para o desenvolvimento da biotecnologia”.

“O BCRJ é importantíssimo estrategicamente no pioneirismo científico e na produção de conhecimento para várias gerações de cientistas que passaram, passam e passarão por ali. Parabéns a toda a equipe que trabalha no local e o mérito pertence ao nosso biólogo emérito Radovan Borojevic, célula essencial da biotecnologia brasileira!”, afirma o Presidente Gustavo Pessôa.

Foi uma honra para o CRBio conhecer o BCRJ e o menino que sonhava com florestas e se tornou um dos pesquisadores mais importantes do país, que venham ainda mais oportunidades de colaboração e parceria.












[Postado em 12/08/2024 | 1940 visualizações]


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